sexta-feira, 31 de outubro de 2014

  



Aproveitando a data, indico a leitura deste famoso poema de Edgar Allan Poe.
BOM HALLOWEEN E BOA LEITURA!!!!



O CORVO 
 Edgar Allan Poe

Em certo dia, à hora, à hora
Da meia-noite que apavora,
Eu caindo de sono e exausto de fadiga,
Ao pé de muita lauda antiga,
De uma velha doutrina, agora morta,
Ia pensando, quando ouvi à porta
Do meu quarto um soar devagarinho
E disse estas palavras tais:
"É alguém que me bate à porta de mansinho;
Há de ser isso e nada mais." 

Ah! bem me lembro! bem me lembro!
Era no glacial dezembro;
Cada brasa do lar sobre o chão refletia
A sua última agonia.
Eu, ansioso pelo sol, buscava
Sacar daqueles livros que estudava
Repouso (em vão!) à dor esmagadora
Destas saudades imortais
Pela que ora nos céus anjos chamam Lenora,
E que ninguém chamará jamais.

E o rumor triste, vago, brando,
Das cortinas ia acordando
Dentro em meu coração um rumor não sabido
Nunca por ele padecido.
Enfim, por aplacá-lo aqui no peito,
Levantei-me de pronto e: "Com efeito
(Disse) é visita amiga e retardada
Que bate a estas horas tais.
É visita que pede à minha porta entrada:
Há de ser isso e nada mais."

Minha alma então sentiu-se forte;
Não mais vacilo e desta sorte
Falo: "Imploro de vós - ou senhor ou senhora -
Me desculpeis tanta demora.
Mas como eu, precisando de descanso,
Já cochilava, e tão de manso e manso
Batestes, não fui logo prestemente,
Certificar-me que aí estais."
Disse: a porta escancaro, acho a noite somente,
Somente a noite, e nada mais.

Com longo olhar escruto a sombra,
Que me amedronta, que me assombra,
E sonho o que nenhum mortal há já sonhado,
Mas o silêncio amplo e calado,
Calado fica; a quietação quieta:
Só tu, palavra única e dileta,
Lenora, tu como um suspiro escasso,
Da minha triste boca sais;
E o eco, que te ouviu, murmurou-te no espaço;
Foi isso apenas, nada mais.

Entro co'a alma incendiada.
Logo depois outra pancada
Soa um pouco mais tarde; eu, voltando-me a ela:
"Seguramente, há na janela
Alguma coisa que sussurra. Abramos.
Ela, fora o temor, eia, vejamos
A explicação do caso misterioso
Dessas duas pancadas tais.
Devolvamos a paz ao coração medroso.
Obra do vento e nada mais."

Abro a janela e, de repente,
Vejo tumultuosamente
Um nobre Corvo entrar, digno de antigos dias.
Não despendeu em cortesias
Um minuto, um instante. Tinha o aspecto
De um lord ou de uma lady. E pronto e reto
Movendo no ar as suas negras alas.
Acima voa dos portais,
Trepa, no alto da porta, em um busto de Palas;
Trepado fica, e nada mais.

Diante da ave feia e escura,
Naquela rígida postura,
Com o gesto severo - o triste pensamento
Sorriu-me ali por um momento,
E eu disse: "Ó tu que das noturnas plagas
Vens, embora a cabeça nua tragas,
Sem topete, não és ave medrosa,
Dize os teus nomes senhoriais:
Como te chamas tu na grande noite umbrosa?"
E o Corvo disse: "Nunca mais."

Vendo que o pássaro entendia
A pergunta que lhe eu fazia,
Fico atônito, embora a resposta que dera
Dificilmente lha entendera.
Na verdade, jamais homem há visto
Coisa na terra semelhante a isto:
Uma ave negra, friamente posta,
Num busto, acima dos portais,
Ouvir uma pergunta e dizer em resposta
Que este é o seu nome: "Nunca mais."

No entanto, o Corvo solitário
Não teve outro vocabulário,
Como se essa palavra escassa que ali disse
Toda sua alma resumisse.
Nenhuma outra proferiu, nenhuma,
Não chegou a mexer uma só pluma,
Até que eu murmurei: "Perdi outrora
Tantos amigos tão leais!
Perderei também este em regressando a aurora."
E o Corvo disse: "Nunca mais."

Estremeço. A resposta ouvida
É tão exata! é tão cabida!
"Certamente, digo eu, essa é toda a ciência
Que ele trouxe da convivência
De algum mestre infeliz e acabrunhado
Que o implacável destino há castigado
Tão tenaz, tão sem pausa, nem fadiga,
Que dos seus cantos usuais
Só lhe ficou, na amarga e última cantiga,
Esse estribilho: "Nunca mais."

Segunda vez, nesse momento,
Sorriu-me o triste pensamento;
Vou sentar-me defronte ao Corvo magro e rudo;
E mergulhando no veludo
Da poltrona que eu mesmo ali trouxera
Achar procuro a lúgubre quimera.
A alma, o sentido, o pávido segredo
Daquelas sílabas fatais,
Entender o que quis dizer a ave do medo
Grasnando a frase: "Nunca mais."

Assim, posto, devaneando,
Meditando, conjecturando,
Não lhe falava mais; mas se lhe não falava,
Sentia o olhar que me abrasava,
Conjecturando fui, tranqüilo, a gosto,
Com a cabeça no macio encosto,
Onde os raios da lâmpada caiam,
Onde as tranças angelicais
De outra cabeça outrora ali se desparziam,
E agora não se esparzem mais.

Supus então que o ar, mais denso,
Todo se enchia de um incenso.
Obra de serafins que, pelo chão roçando
Do quarto, estavam meneando
Um ligeiro turíbulo invisível;
E eu exclamei então: "Um Deus sensível
Manda repouso à dor que te devora
Destas saudades imortais.
Eia, esquece, eia, olvida essa extinta Lenora."
E o Corvo disse: "Nunca mais."

"Profeta, ou o que quer que sejas!
Ave ou demônio que negrejas!
Profeta sempre, escuta: Ou venhas tu do inferno
Onde reside o mal eterno,
Ou simplesmente náufrago escapado
Venhas do temporal que te há lançado
Nesta casa onde o Horror, o Horror profundo
Tem os seus lares triunfais,
Dize-me: "Existe acaso um bálsamo no mundo?"
E o Corvo disse: "Nunca mais."

"Profeta, ou o que quer que sejas!
Ave ou demônio que negrejas!
Profeta sempre, escuta, atende, escuta, atende!
Por esse céu que além se estende,
Pelo Deus que ambos adoramos, fala,
Dize a esta alma se é dado inda escutá-la
No Éden celeste a virgem que ela chora
Nestes retiros sepulcrais.
Essa que ora nos céus anjos chamam Lenora!"
E o Corvo disse: "Nunca mais."

"Ave ou demônio que negrejas!
Profeta, ou o que quer que sejas!
Cessa, ai, cessa!, clamei, levantando-me, cessa!
Regressa ao temporal, regressa
À tua noite, deixa-me comigo.
Vai-te, não fica no meu casto abrigo
Pluma que lembre essa mentira tua,
Tira-me ao peito essas fatais
Garras que abrindo vão a minha dor já crua."
E o Corvo disse: "Nunca mais."

E o Corvo aí fica; ei-lo trepado
No branco mármore lavrado
Da antiga Palas; ei-lo imutável, ferrenho.
Parece, ao ver-lhe o duro cenho,
Um demônio sonhando. A luz caída
Do lampião sobre a ave aborrecida
No chão espraia a triste sombra; e fora
Daquelas linhas funerais
Que flutuam no chão, a minha alma que chora
Não sai mais, nunca, nunca mais!

trad. Machado de Assis - 1883

terça-feira, 28 de outubro de 2014

Entrevista com Ismael Sebben

Ismael é estudante de Letras da UCS Carvi, e bolsista do Pibid (Projeto de Iniciação à Docência) na Escola Mestre Santa Bárbara. Trabalhou em diversas peças e curta metragens, entre elas Parasitas do Lodo. Ismael foi o responsável pelas peças apresentadas no Sarau Literário da Escola Mestre, que ocorreu na Casa das Artes entre os dias 24 e 25 de setembro.


Ø  Você poderia contar um pouco da sua história no teatro?

Iniciei minha trajetória no teatro no grupo “Sinagoga e os Poetas da Praça Zen”, grupo multiartístico, de Bento Gonçalves, que trabalhava com a fusão de música, declamação de poesias e encenação. Fiz alguns cursos em Caxias do Sul e Porto Alegre. Posteriormente, fui a São Paulo, e me formei ator, trabalhando em diversas peças e provando da experiência de vivenciar o teatro dia a dia, percurso esse, que me trouxe subsídios para o trabalho realizado com os alunos da escola Mestre Santa Bárbara. Referente à literatura, sempre foi presente em minha vida, interesse despertado na escola. Meu último trabalho profissional foi em cinema, no curta metragem, “Parasitas do Lodo”, de 2013, disponível no Youtube.

Ø  Quais eram as expectativas em relação aos alunos?

Creio que as conversas entre os participantes do Pibid e a escola, buscando estratégias para o desenvolvimento do trabalho, foram fundamentais para “alimentar” as expectativas em relação aos alunos. Pensar e elaborar projetando o sucesso do trabalho é essencial. Penso que projetar o futuro é o estopim para se dar o primeiro. É pensar lá na frente o que nos move no presente instante. Depois, procurei passar a minha confiança e a segurança aos alunos, de que tudo ocorreria bem. A partir disso, comecei a pensar em expectativas. Os alunos foram acolhedores no que diz respeito à proposta de trabalho. Sempre acreditei que dariam conta.
 
Ø  Como foi o trabalho de “lapidar” alunos que nunca tiveram contato com a arte cênica?
Começamos, estrategicamente, buscando conhecer um pouco dos alunos-atores. Trabalhamos com jogos teatrais e de improvisação, afinal, improvisar nos impulsiona a externar, de forma espontânea, sentimentos, pensamentos e ações. As crônicas bem humoradas de Luis Fernando Verissimo nos serviram como texto de apoio para as improvisações. “Lapidar”, não foi um trabalho só meu, mas também dos próprios alunos, no momento em que se percebiam em cena e analisavam a atuação dos colegas. O que foi perceptível é que cada aluno tem seu tempo para assimilar as ideias.

Ø  O desenvolvimento deles foi satisfatório?

A apresentação das peças foi satisfatória, porque puseram no palco o que trabalharam na oficina. Não posso cobrar que tenham resultado similar ao aluno que procura, por conta própria, visando profissionalizar-se, um curso profissionalizante de teatro, que tenham atuação profissional. São alunos e dentro do fazer teatro, mais que uma boa atuação no palco, têm-se outros ganhos, como: aprende-se a ter responsabilidades, pontualidade e o exercício da coletividade.  Cada um sabe o quanto se esforçou. Deixo essa pergunta também a eles.

Ø  Qual foi seu maior medo quando assumiu a responsabilidade de fazer a apresentação na Casa das Artes?

Montar um espetáculo exige um empenho que vai além da atuação. Empenha-se também com: figurino, cenário, maquiagem, entre outras coisas. A organização para a execução é fundamental. Esse era meu maior medo, mas os alunos, os professores e a direção foram eficientes.

Ø  Vocês conseguiram transmitir o que gostariam?

Sim. O importante era poder contar de forma clara as histórias das peças.

Ø  Mais ações serão desenvolvidas com o grupo de teatro?

Sim. A próxima oficina trabalhará com stand up. Vai ser muito divertido. As propostas de jogos e dinâmicas para a oficina estão muito legais.

Ø  A sensação de dirigir uma peça é a mesma de atuar?

A sensação é a mesma: agradável, por se estar trabalhando com teatro, mas as funções são bem distintas. O diretor é um observador, uma criança montando um quebra-cabeça: o ator tem que fazer da personagem que interpreta “a peça bem desenhada”, para o jogo, para a imagem, para o encaixe e para o entendimento do quebra-cabeça pensado pelo diretor.

Ø  Qual a importância do teatro para nossa sociedade?


O teatro transmite valores, passa por momentos da história, visita épocas e costumes, critica, lida com o passado, presente e futuro, do mundo e do ser humano, tenta explicá-lo e entendê-lo ao mesmo tempo, além de nos levar a outros mundos. “Caixa preta” (teatro) que, ao sentarmos em uma cadeira, nos permite ver a vida esmiuçada, leva-nos ao riso, ao choro, à reflexão, ao espanto e a tantas outras sensações. 

Depoimento

DEPOIMENTO PARA O JORNAL MESTRANDO
                              
O jovem as vezes precisa de um incentivo para encontrar um caminho profissional, ou de destaque. Ideias como um jornal escolar, feito pelos próprios alunos é um meio de interação direto, pelo qual podem se expressar. Jornalismo não se restringe à escrita, tanto é que abrange outros campos como: esportes, sátiras, fotografia, entre outros. O Jornal Mestrando é uma ótima oportunidade para que alguns alunos mostrem suas habilidades além da rotina escolar, seja com notícias, informativos ou poesias. Essa vivência se transforma não só em uma experiência para nós, como também para os orientadores do PIBID, que ganham a oportunidade de aplicar soluções e sugestões para nosso melhor desenvolvimento. Acredito que ter possibilidade de escrever em um jornal é uma forma de abrir novos horizontes, criando perspectivas e de certa forma influenciando na escolha profissional. Muito obrigado ao PIBID por essa fantástica experiência.
Briam Paim
(aluno da Escola Mestre Santa Bárbara)


sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Mostre a sua cara!

Mande suas fotos em eventos do Mestre, tire suas crônicas da gaveta, suas opiniões da cabeça e mande para nós!!! O Jornal Mestrando está aberto para suas opiniões e comentários, queremos saber o que você pensa! 



Homenagem aos Mestres

No dia 15 deste mês, Dia do Professor, a Escola Mestre Santa Bárbara, fez uma espécie de "gincana" com os professores. O objetivo era homenagear aqueles que abdicam de parte da sua vida para ensinar! Nós, do Jornal Mestrando, não poderíamos ficar "fora dessa".

"Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina."
Cora Coralina